quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Masturbação e Meditação

Vamos nos aprofundar agora nesse que tem sido um dos temas mais polêmicos de todos os tempos.

Muitos ainda poderão se perguntar de que forma se pode haver essa associação entre Masturbação e Meditação, duas coisas que teoricamente não casam.  Mas eu vou mostrar que podem casar perfeitamente!

Antes mesmo de entrar efetivamente nesse assunto, é importante analisar o quanto a sexualidade humana se tornou desequilibrada com o advento da pornografia.  Como já analisei em textos anteriores, não é dizer que a pornografia seja algo que não tenha a sua utilidade e que não possa ser usada para ajudar, ao invés de "desestabilizar" todo o universo da sexualidade humana.  Mas o fato é que, ao longo desses anos, a pornografia tornou-se uma ferramenta de manipulação, muito mais do que uma ferramenta de esclarecimento e ajuda.



Nina Hartley tornou-se mundialmente conhecida pelos seus vídeos tutoriais "Guide to", ensinando novas formas de como se relacionar sexualmente, ensinando as melhores formas de praticar sexo oral, sexo anal, sexo à três, swing, tudo sempre destacando a importância de se ter muito respeito com seu parceiro e que tudo isso deveria ser praticado com consentimento e cumplicidade, desde que os parceiros se sentissem confiantes em experimentar tais variações sexuais.

A década de 80 foi marcada por uma geração "pré-viagra" que tinha a preocupação de mostrar à sociedade que sexo poderia ser algo muito mais divertido e prazeroso.  Infelizmente, com o passar do tempo, e o advento das doenças sexualmente transmissíveis, isso precisou ser revisto.  A pornografia procurou ensinar as pessoas a se protegerem, fazendo uso de camisinha de látex para se protegerem e assim se divertir sexualmente de uma forma mais responsável.

Conforme essa atividade foi se tornando mais "corporativa" e menos amadora, a coisa foi mudando de figura, e ela adquiriu contornos mais "manipulativos", voltados muito mais para o lucro fácil, do que propriamente para algo "à serviço da sociedade".

Na Era "pós-viagra", a coisa começou a se tornar mais "espetacular".  De repente parecia que se relacionar sexualmente era algo quase impossível para os pobres mortais.  E a coisa toda foi se tornando mais malabarística, mais agressiva, menos respeitosa, muito menos preocupada em ajudar e tornar a sexualidade mais prazerosa.  Foi tudo se tornando mais estúpido, mais inacreditável, mais grosseiro, muito mais arriscado.

Então vocês poderão perguntar: mas o que isso tudo tem a ver com Masturbação, ou mesmo com Meditação?  Com Meditação, nada!  Mas com Masturbação, tudo!

Infelizmente, para a grande maioria dos adolescentes em fase de desenvolvimento hormonal e sexual, a pornografia sempre constituiu a principal fonte de informações, já que os pais sempre só se preocuparam de dizer aos filhos sobre as precauções que eles deveriam tomar para não contrair doenças, e nunca entraram em uma conversa plena sobre sexualidade de forma mais abrangente.  Até porque, eles próprios vinham de educações sexuais repressoras, portanto para a grande maioria dos pais, falar sobre sexo sempre foi algo altamente constrangedor.

O modelo de masturbação tradicional sempre esteve condicionado a se fazer uso de estimulantes eróticos, como filmes pornôs, revistas masculinas com mulheres nuas e coisas do gênero.  E para o adolescente sem maiores instruções de um adulto mais amadurecido e pronto a lhe dar uma informação de melhor qualidade, os filmes pornográficos sempre constituíram o padrão comportamental sexual.

Portanto, para a geração "pós-viagra", isso gerou enormes distorções, até porque, ao se assistir a esses filmes mais "sensacionais e malabarísticos", se relacionar sexualmente parecia ser uma missão quase impossível!

Mas de que forma isso afetou nossos hábitos masturbatórios?

Um filme pornográfico possui uma carga erótica monstruosa, um poder de excitação que é hipnótico e viciante, como uma droga alucinógena.  Para um adolescente em idade de formação de caráter e fisiologia, isso tem um efeito devastador e destrutivo.  Por isso temos hoje tantos casos de homens que sofrem de ejaculação precoce, disfunções eréteis, anorgasmia, entre outras disfunções geradas pela exposição ao vício em pornografia.  Sem contar aqueles que simplesmente resolvem se entregar ao vício, e simplesmente não se relacionam sexualmente com outro parceiro ou parceira.

A verdade é que, quando uma pessoa se masturba usando um estimulante sexual visual como esses, ela torna o ato totalmente mecânico, onde o genital pode até mesmo se tornar insensível ao estímulo manual ao longo do tempo, gerando até mesmo problemas maiores dos que os problemas relatados anteriormente.  A pessoa não está focada propriamente no prazer do seu próprio corpo, mas sim em dar um alívio à carga excitatória provocada por aquele estímulo sexual, gerado pela pornografia.

É nesse ponto que o tantra vem a propor uma forma "reeducativa" de masturbação, onde essa excitação será buscada em seu próprio corpo, e não em estímulos eróticos externos.

O corpo nu, conforme abordado em textos anteriores, pode ser uma fonte de estímulo sexual, se conseguirmos equilibrar nossas energias masculina e feminina, transpor os preconceitos injetados em nossa cabeça pela sociedade, e perdermos o pudor de admirar nosso corpo nu.  Além disso, ao focarmos nossa atenção em nosso corpo e criar o hábito de "se relacionar" sexualmente consigo mesmo, como poderíamos nos relacionar com uma pessoa externa, estamos nos abrindo a sentir todas as sensações de nosso próprio toque, e é à partir de se abrir para sentir que transformamos o ato da masturbação em uma atividade meditativa.


Conseguem agora perceber a associação?  Esqueçam-se de tudo, crie um ambiente íntimo e agradável para si mesmo.  Deixe o ambiente à meia luz, use uma música relaxante se assim desejar.  Pode até mesmo fazer uso de incenso para trabalhar odores mais agradáveis e relaxantes.  Tudo para deixar o ambiente mais leve, e com uma energia mais suave.  Então retire toda a sua roupa, posicione-se confortavelmente na cama, no sofá, ou mesmo de pé e passe a explorar toda... Eu disse TODA!  A extensão do seu corpo.  Não se restrinja aos genitais.  Considere que toda a extensão da sua pele é um enorme genital a ser explorado.  Dessa forma você estará se abrindo a formas de orgasmo que você jamais imaginou serem possíveis.

Por fim, toque seus genitais.  Seja gentil com ele/ela.  Não tenha pressa de se excitar, apenas toque-se.  Aos poucos você perceberá que seu genital irá sempre responder ao toque sutil e carinhoso de suas mãos, sem a necessidade de fazer uso de medicamentos que provoquem ereção.  Mas toque-se com gentileza, sem pressa.  Passe a uma massagem lenta e carinhosa.  Não tenha pressa de chegar ao clímax!  Aproveite o tempo.  Viva a experiência!  Isso é fazer Amor consigo mesmo.  A meditação encontra-se em observar as sensações que isso tudo provoca, em se conhecer e se abrir a sentir.  O prazer vai ser tanto que você não conseguirá pensar em outra coisa!

Com o tempo, e com o hábito, você perceberá que seu corpo começa a desenvolver uma sensibilidade que você nunca pensou ser possível ser desenvolvida.  Você se abrirá para novos e até mais intensos níveis de prazer.  E sua vida sexual se tornará mais plena e satisfatória.


Ninguém precisa de filmes pornográficos para fazer Amor consigo mesmo!  Liberte-se disso.